Quadras O Amor é Cego
Manuel Calado
O Amor é
Cego
quadras
ao (meu) gosto popular
Amores de barro
O
amor é cego e usa
Um belo cocar de penas
Não sei cantar sem ter musa
Não há Heróis sem Helenas
Amor
é cego e eu vejo
Nessa imagem colorida
Um certo ar sertanejo
Cheio de graça e de vida
O
amor é cego e bonito
No seu jeito tropical
É um avatar do Mito
A verdade universal
Se
meu amor fosse cego
Como os amores de Estremoz
Não chegava, como chego
Deslumbrado à tua foz
Sou
barrista sonhador
Moldo a vida em cada gesto
Na Primavera, o Amor
Mesmo Cego, faz o resto.
Bonecos
feitos à mão
Entram pelos olhos da gente
Podem ser cegos ou não
São vistosos, certamente.
O
Amor é cego e nasce
De mãos muito habilidosas
A partir do barro faz-se
Como o milagre das rosas
Meu
amor é Cego e duro
Foi pintado com verniz
É como um tiro no escuro:
Pode o amor ser feliz?
Amores
estremocenses
Saídos da mão do povo
Não digas, amor, nem penses
Amor torna tudo novo
Os
Bonecos de Estremoz
Por
serem coisa tão nossa
São
cegos, mas têm voz
Com
sotaque a serra d’Ossa
Meu
Amor tem pés de barro
Mas, mesmo de olhos vendados,
É a ele que me agarro
Leva-me a todos os lados.
Amor
é Cego e de terra
Com lindas cores pintada
Entre o Amor e a Guerra
Ou entre o Tudo e o Nada.
Amor
é cego e de loiça
Muito fácil de partir
Quero que o meu amor oiça
Estes versos a sorrir...
Se
o amor fosse cego
Como os bonecos de barro,
Sendo eu, assim, labrego
Usava pelico e tarro
Amor
é cego, sem ver
As cores lindas que tem
Que Amor é Homem, Mulher
Não se pode amar Ninguém...
Amo-te
de olhos vendados
E penas de várias cores
Meu amor: estamos tramados
Viva quem não tem amores
O
amor alentejano
Pintado com tons garridos
Não é um anjo, é humano
Entre a alma e os sentidos
Entre
este amor alado
E os outros que conheci
Há o amor figurado
Que me faz pensar em ti
O
Amor é Cego e idoso
É mais antigo que nós
É colorido e formoso
Diz que me ama, sem voz.
O
amor é cego, vês?
Não sabe andar direito
Vira tudo de revés
Coração fora do peito
Amores de gente
Sou
cego guiando cegos
À beira do precipício
Amar é juntar dois egos
Amar é vencer o vício
O
amor é cego ou não quer
Ver para lá do seu umbigo
Mas amor, haja o que houver
Vamos enfrentar o perigo
O
Amor é cego e fatal
Como o Destino, em suma
Para lá do bem e do mal
Cheio de coisa nenhuma
Cegueira
está para o amor
Como a saudade para o fado
A fruta tem mais sabor
Quando a como encigueirado
O
amor é cego e fiel
Mesmo sem ter coração
Muito mais doce que mel
Alimenta mais que pão
Os
amores alentejanos
Devem ser como os demais
Muitos sonhos, desenganos
Muitos suspiros e ais
Amor
é cego de dor
Pelas injustiças que viu
Mas tem cegueira maior
Quem nunca essa dor sentiu
O
meu Amor não é Cego
Tapa os olhos porque quer
Sou mais cego, se delego
No olhar de outrem qualquer.
O
Amor é Cego e sem voz
Não
sabemos o porquê.
A vida tem tantos nós
Mas nó cego não se vê
O
Amor é um nó cego
Difícil de desatar
Quanto mais eu me entrego
Mais me tenho que entregar
Amor
é Cego e tropeça
Nas armadilhas do mundo
Mas a cegueira é promessa
De um sentir bem mais profundo
Amor,
o Amor é Cego
Porque vê com outra luz
A flor da planta que eu rego
É a que mais me seduz
O
Amor é cego, suponho
Que só vê o que convém
Se te amo, é porque sonho
Contigo e com mais ninguém
O
meu amor tapa os olhos
Para não me ver olhá-lo
Amores, tenho eu ao molhos
Eu bem sei do que é que falo
O
amor dos camponeses
Criados no Alentejo
Abre os olhos, mas, às vezes
Vendado, sou eu que o vejo
Amor
não é bibelot
Para enfeitar a vida
Se ele é Cego, eu cá sou
Uma bengala colorida
Já que o meu amor é cego
Vou andar despenteado
Aos SS, fora do rego,
Em modo de apaixonado
O
amor é cego e eu amo
Cegamente o meu amor
Pois colho a fruta do ramo
Sem nunca ter visto a flor
Está
cego o meu Amor
Com a luz que irradias
Mas conheço-te de cor
Na penumbra dos meus dias
O
amor é cego e divino
Somos raios dessa luz
Ninguém foge ao seu destino
A verdade nos conduz
O
meu amor colorido
De tanto amar, cegou
Era o fruto proibido
E tudo o vento levou
Meu
amor ficou assim
Por olhar o sol de frente
Ele só me vê a mim
Sou para ele o Oriente
O
amor é cego e anda
Perdido na multidão
Cada um na sua banda
Com o coração na mão
O
Amor é Cego. É?
Ou Amor é só vendado?
Ele usa os olhos da Fé
E vê tudo em todo o lado…
Amor
é cego, mas Deus
Que vê tudo, em todo o lado
Abre concerteza os céus
A quem vive apaixonado
Amor
é cego, o sortudo
Não vê chagas nem miséria
Amar, acima de tudo
Tem que ser uma coisa séria
Amor
é cego ou quase
Por ter os olhos tapados
Somos cegos só na fase
De estarmos apaixonados
Às
vezes, o amor é cego
Por simples conveniência
Se não vejo, não renego
Vou além da aparência
Meu
amor, de óculos escuros
Não é cego, mas parece
Para amar, saltamos muros,
Mas quem não ama, padece
Um
amor que cego fosse
Neste mundo escuro e triste
Veria a vida mais doce
Dava mais brilho ao que existe
Sabes
que o amor é cego
Porque sentes a cegueira
Quem não ama, vê-se grego
Amar não é brincadeira
Olha,
amor, amor é cego
E eu ando cego por ti
És um porto, um aconchego
A vida é agora, aqui
O
amor cego que aqui vês
Era morcego no escuro
Abriu os olhos de vez
E abriu asas ao futuro
Lá
por o amor ser cego
Não ver a ponta de um corno
Vade retro, te arrenego
Amarga como piorno
O
Amor é Cego, mas eu
Fico cego, quando o vejo
Dá luz à noite de breu
Acorda a voz do desejo
O
Amor é Cego, pois
A Verdade é invisível.
Multiplicado por dois
Dá produto indivisível
"O
amor já não é cego
Abre os olhinhos à gente"
Amor é desassossego
Faz-nos ver tudo diferente
O
amor é cego de dia
Quando a luz incide crua
À noite, pura magia
É aliado da Lua.
Tanta
cegueira amorosa
Descrevendo voos rasantes
Cheira a cravo, cheira a rosa
Cheira ao corpo dos amantes
Amor
é cego e não sabe
Os tombos que a gente dá
Mas, dentro de lo que cabe,
Toda a gente tombará
O
Amor, é certo e sabido
É um nó cego bizarro
Pensa num ramo florido
Aprisionado num jarro.
Amor
é cego e até
Fico a pensar e a dizer
Que o maior cego é
Aquele que não quer ver
Amar
alguém com fervor
É altruísmo do Ego
Toda a gente sabe, amor
Amor, de verdade, é Cego.
Amor
é Cego, e tem
Dificuldades de ouvido
Ouve só o que convém
Bons conselhos são ruído
O amor é cego demais
Antes zarolho, não
sei...
Em terra de invisuais
Só quem tem um olho é rei.
O
amor é cego, não pode
Guiar ninguém nos caminhos
Quando a Primavera explode
São só beijos e carinhos
Amor
é cego. O ciúme
Vê o que é e não é
Avalia o teu perfume
É como um crente sem Fé
As
asas do meu Amor
Não servem para voar
Vou com ele aonde for
Voo nas ondas do mar
O
amor é cego. É puro
Mecanismo universal
Como o diamante duro
Rege o reino mineral
Amor
é cego, já era
Vamos lá olhar em frente
O Amor e a Primavera
Dão cor à alma da gente
O
Amor é cego e tolo
E embora não pareça
Não bate bem do miolo
E às vezes perde a cabeça
O
amor é cego, amigo
Mesmo que retire a venda
Olha bem o que te digo
Essa cegueira é uma prenda
O
amor é cego e não creio
Que, por mais que tente ver
Consiga ver mais que meio
Do que eu te quero, sem querer
O
amor é cego e parece
Que a justiça também
O amor justo acontece
Quando a gente se quer bem
O
amor é cego de ver
Tanto desamor na terra
Por isso é nosso dever
Fazer Amor e não Guerra
Amor
é cego, mentira
Vejo os teus olhos em mim
É o Amor que nos inspira
E o que nos faz dizer sim
O
Amor é cego e sim
Turva a visão da gente
Não é cegueira ruim
Mas tudo fica diferente
O
amor é cego, cuidado
Com as pedras do caminho
Anda comigo, a meu lado
Andamos devagarinho
Compadre,
o amor é cego
Não vê mais do que a toupeira
Amor é Paz e Sossego
Mas dá-nos muita cegueira...
O
Amor é Cego e isso
Faz-nos ver o que sonhamos
Amor, o maior feitiço
Somos escravos sem amos
Amor
é cego, não nego
Porque só vê o que ama
Neste amor em que navego
E onde o abismo me chama
O
Amor é Cego, talvez
Muito menos que parece
Abres o olhos e vês
Só aquilo que acontece
O
Amor é Cego, amor
E o que vier se verá
O fruto não vê a flor
Ver de dentro é que dá.
Amor
é Cego, mas fala
Com o coração na mão
Entre o que diz e o que cala
Em fuga da solidão.
Amor
é Cego, mas vê
Com o olhar do coração
Se queres ser livre, sê
Livre de toda a paixão.
Amor
é Cego, mas sabe
As cores todas que existem
Mesmo que o Amor acabe
Há matizes que persistem
O
Amor é cego, coitado
Porque quem ama não vê
A cegueira do amado
E não quer saber porquê.
Amor
é cego, mas voa
Alado, na minha mente
Se me visse, assim, à toa
Levava-me simplesmente
Amor
é invisual
Pessoa com deficiência
É uma coisa natural
É um mistério da ciência
O
amor é cego, indiferente
Às belezas mais mundanas
O Amor transmuta a gente
Sem precisar de nirvanas
O
amor é cego e eu
Só tenho olhos para ele
Qual Julieta e Romeu
Sentimos o amor na pele
Amores
cegos, há mais
Do que há amores perfeitos
Entre suspiros e ais
Peguei meus beijos e dei-tos
O
amor é cego, é um Mito
Memória transfigurada
Nem sabe como é bonito,
Uma mão cheia de nada
O
Amor na Primavera
Colhe as flores da Ategina
Oh meu amor, quem me dera
Colher-te ao virar da esquina
Amor
é cego, mas hoje
Usa lentes de contacto
Quanto mais a vista foge
Mais importante é o tacto
O
amor é cego, diz-se
Mas quem diz, conhece o truque
De parecer ser belo e fixe
Nas redes do facebook
Amor
é cego ou parece
Aos olhos de quem não vê
Sempre que o lume arrefece
Meu amor liga a tv
Que
eu seja ceguinho se
A cegueira do Amor
Não é consequência de
A gente tanto de expor.
O
amor é cego, mas
É só figura de estilo
Ele vê por detrás das
Artimanhas do sigilo
O
amor é cego e brinca
Cá comigo às escondidas
É um pajé, é um inca
Fala línguas esquecidas
O Amor é Cego
Maria Cravo
Só se ama em cegueira
Num amor pra vida inteira.
Mesmo em vida sofrida,
O amor torna-a florida.
É com os olhos fechados,
Numa total cegueira,
Que vejo em todos os lados
A paixão que é verdadeira.
Há amor que não delego
Vivo uma grande paixão,
Está feliz o coração.
Porque o amor é cego.